segunda-feira, 10 de julho de 2017

ANKH (cruz ansada egípcia)

Cruz ou nó mágico denominado O Vivente (de Nem Ankh), usada com grande freqüência na iconografia dos contrários. Poderia representar, pela forma oval dominando a cruz, o sol, o céu e a terra, macrocosmicamente, e o homem, microcosmicamente. É interpretada na maioria das vezes como um signo que exprime a conciliação dos contrários, ou a integração dos princípios ativo e passivo; o que bem parece confirmar o fato de que represente, deitada, os duplos atributos sexuais; da mesma forma que uma figura indiana do andrógino, de pe sobre uma flor de lótus, esta, porém de modo muito realista. Quando interpretada de maneira mais tradicionalista é, segundo Champdor, o símbolo de milhões de anos de vida futura. Seu círculo é a imagem perfeita daquilo que não tem nem começo nem fim: representa a alma que é eterna, por ter saído da substância espiritual dos deuses; a cruz figura o estado de transe no qual se debatia o iniciado, e representa, mais exatamente, o estado de morte, a crucificação do eleito e, em certos templos, o iniciado era deitado pelos sacerdotes sobre um leito em forma de cruz... Aquele que possuísse a chave geométrica dos mistérios esotéricos, cujo símbolo era precisamente essa cruz ansada, sabia abrir as portas do mundo dos mortos e podia penetrar o sentido oculto da vida eterna.

Os deuses e os reis, Ísis quase sempre, trazem-na na mão para indicar que detêm a vida, que são, portanto, imortais; os defuntos seguram-na, na hora da psicostasia* ou sobre a barca* solar, para indicar que imploram dos deuses essa imortalidade. Essa cruz simbolizava ainda o centro, de onde se derramam as qualidades divinas e os elixires da imortalidade; tê-la entre as mãos, era abeberar-se nas próprias fontes. Às vezes, essa cruz era segurada pela parte superior, pela ansa (asa) – sobretudo durante as cerimônias fúnebres; nessas ocasiões, sua forma evocava a de uma chave, e ela era verdadeiramente a chave que abria a porta do túmulo para os Campos de Ialu, para o mundo da eternidade. Outras vezes, a cruz ansada aparece encostada no meio da testa, entre os olhos, indicando, então, o ser iniciado nos mistérios e a obrigação do segredo; é a chave que fecha os arcanos para os profanos. Aquele que se beneficia da visão suprema, que foi dotado de clarividência, que rompeu o véu do Além, não poderá jamais tentar revelar o mistério sem perdê-lo para sempre.

A cruz ansada é frequentemente relacionada ao nó de Ísis como símbolo de eternidade. E não é por causa da direção das linhas retas, prolongadas imaginativamente ao infinito, mas porque essas linhas convergem para a presilha fechada, onde se reúnem. Essa presilha simboliza a essência infinita da energia vital, identificada com Ísis, de onde provém toda manifestação de vida. Por isso é usada como um talismã por todos aqueles que desejam participar de sua vida. A cruz ansada pode, portanto, ser assimilada à árvore da vida a com seu tronco e sua fronde.

O nó de Ísis, com essa espécie de cordão que envolve os braços e o anel da cruz, como se fossem cabelos entrelaçados ou trancados, é de uma significação mais complexa. Acrescenta ao sentido de signo de vida e de imortalidade o sentido dos laços que atam à vida mortal e terrena, e que é importante que sejam desatados para se alcançar a imortalidade. Desata teus laços, diz um texto do Livro dos mortos egípcio, solta a presilha de Néftis; ou ainda: Os luminosos são aqueles que usam a presilha.Oh! portadores da presilha! Com um sentido análogo, há um livro budista tibetano que se intitula: Livro do desenrolamento dos nós. Ao passo que a simples cruz ansada simboliza a imortalidade divina, adquirida ou desejada, o nó de Ísis indicaria as condições dessa imortalidade: o desenrolamento dos nós, em seu sentido próprio – o de desenlace.
Fonte: (Chevalier, Jean, 1906 - Dicionário de símbolos:(mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números)/Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, com a colaboração de: André Barbault...[et al.]; coordenação Carlos Sussekind; tradução Vera da Costa e Silva...[et al.]. - 19º ed. - Rio de Janeiro:José Olympio, 2005, p. 61-62.)

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