quarta-feira, 16 de abril de 2014

FÊNIX

A fênix, segundo o que relataram Heródoto ou Plutarco, é um pássaro mítico, de origem etíope, de um esplendor sem igual, dotado de uma extraordinária longevidade, e que tem o poder, depois de se consumir em uma fogueira, de renascer de suas cinzas. Quando se aproxima a hora de sua morte, ela constrói um ninho de vergônteas perfumadas onde, no seu próprio calor, se queima. Os aspectos do simbolismo aparecem, então, com clareza: ressurreição e imortalidade, reaparecimento cíclico. É por isso que toda a Idade Média fez da fênix o símbolo da Ressurreição de Cristo e, às vezes, da Natureza divina — sendo a natureza humana representada pelo pelicano*.

A fênix é, no Egito antigo, um símbolo das revoluções solares; ela está associada à cidade de Heliópolis. É possível, entretanto, que essa cidade do Sol não seja originalmente a do Egito, mas a Terra solar primordial, a Síria de Homero. A fênix, dizem os árabes, somente pode pousar na montanha de Qaf, que é o pólo, o centro do mundo. Seja como for, a fênix egípcia, ou Bennou, estava associada ao ciclo quotidiano do sol e ao ciclo anual das cheias do Nilo, daí sua relação com a regeneração e a vida.

Como se tratava, no Egito, da garça real purpúrea, pode-se evocar o símbolo de regeneração, que é a obra em vermelho alquímica. Os taoístas designam a fênix com o nome de pássaro de zarcão (tanniao), sendo o zarcão o sulfeto vermelho de mercúrio. A fênix corresponde, além disso, como emblema, ao sul, ao verão, ao fogo, à cor vermelha. Seu simbolismo se relaciona também com o Sol, a vida e a imortalidade. A fênix é a cavalgadura dos Imortais. É o emblema de Niukua, que inventou o cheng, instrumento de música em forma de fênix, imitando o canto sobrenatural da fênix.

A fênix macho é símbolo de felicidade; a fênix fêmea é o emblema da rainha, em oposição ao dragão imperial. Fênix macho e fênix fêmea são, juntos, símbolo de união, de casamento feliz. Além disso, as fênix de Siao-che e Long-yu, se manifestam a felicidade conjugal, conduzem os esposos ao paraíso dos Imortais. É uma fênix que revela a Pien-ho a presença do jade dinástico dos Tcheu, símbolo da imortalidade, e é o Fong-hoang, manifestação de puro yang, que aparece na ocasião dos reinados felizes.

Al-Jili faz da fênix o símbolo daquilo que só existe em função do próprio nome; ela significa aquilo que escapa as inteligências e aos pensamentos. Assim como a idéia de fênix não pode ser alcançada a não ser através do nome que a designa, Deus não pode ser alcançado a não ser pelo intermédio de seus Nomes e de suas Qualidades.

Esse pássaro magnífico e fabuloso levantava-se com a aurora sobre as águas do Nilo, como um sol; a lenda fez com que ele ardesse e se apagasse como o Sol, nas trevas da noite, e depois renascesse das cinzas. A fênix evoca o fogo criador e destruidor, no qual o mundo tem a sua origem e ao qual deverá o seu fim; ela é como que um substituto de Xiva e de Orfeu.

Ela é um símbolo da ressurreição, que aguarda o defunto depois do julgamento das almas (psicostasia*) se ele houver cumprido devidamente os ritos e se sua confissão negativa foi julgada como verídica. O próprio defunto se transforma em fênix. A fênix freqüentemente leva consigo uma estrela, para indicar sua natureza celeste e a natureza da vida no outro mundo. A fênix é o nome grego do pássaro Bennou; ele figura na proa de diversas barcas* sagra­das, que vão desembocar no vasto incêndio da luz. . . símbolo da alma universal de Osíris que criará a si mesma de si mesma para sempre, por tanto tempo quanto durar o tempo e a eternidade.

O pensamento ocidental latino tinha que herdar alguma coisa do símbolo referente à fênix, pássaro fabuloso, cujo protótipo egípcio, o pássaro Bennou, gozava de um prestígio extraordinário em função de suas características. Entre os cristãos, será, a partir de Orígenes, considerado um pássaro sagrado e símbolo de uma vontade irresistível de sobreviver, bem como da ressurreição e do triunfo da vida sobre a morte.

(Chevalier, Jean, 1906 - Dicionário de símbolos:(mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números)/Jean Chevalier, Alain Gheerbrant, com a colaboração de: André Barbault...[et al.]; coordenação Carlos Sussekind; tradução Vera da Costa e Silva...[et al.]. - 19º ed. - Rio de Janeiro:José Olympio, 2005, p. 421-422.)

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